quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Leia a reportagem de Andréa Michael, publicada em 26 de abril passado.

Dantas é alvo de outra investigação da PF

Banqueiro e sócios são investigados por supostos crimes financeiros após informações encontradas em computador

Investigados afirmam que não receberam nenhuma informação da investigação; polícia vê acesso a informações privilegiadas

ANDRÉA MICHAEL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Personagem crucial no processo de aquisição da Brasil Telecom pela Oi, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e seus principais sócios e executivos são alvo de uma outra investigação da Polícia Federal que começou com base na quebra de sigilo do computador central do banco apreendido pelos policiais federais em setembro de 2004.

Segundo a equipe de policiais que trabalha no caso, a existência de fortes indícios de crimes financeiros poderia levar à prisão pelo menos 20 pessoas, cumprimento de mandados de busca e apreensão de documentos e bens em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Pará, além de procedimentos de cooperação de órgão policiais internacionais em três países: Estados Unidos, Itália e França.

Além de Dantas, os principais alvos da investigação da PF são o sócio dele Carlos Rodemburg, sua irmã e também parceira de negócios, Verônica Dantas, além do empresário e especulador Naji Nahas.

Dantas já responde a ação penal decorrente da Operação Chacal, deflagrada pela PF em setembro de 2004. É acusado de supostamente ter praticado os crimes de violação de sigilo de informação reservada e corrupção, ao contratar a Kroll para ter acesso a dados de pessoas e empresas em órgãos públicos os quais são considerados reservados.

Em março de 2007, a pedido do Ministério Público Federal de São Paulo, fez-se a quebra do sigilo do servidor do Opportunity, com base em decisão judicial da 2ª Vara da Justiça Federal. O argumento dos procuradores foi a verificação da eventual existência de operações financeiras que pudessem comprovar o envolvimento de Dantas com operações relacionadas ao mensalão — a mesada paga por dirigentes petistas a parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso.

A principal justificativa foi o fato de Dantas, por meio do Opportunity, ser o gestor da Brasil Telecom, dona da Telemig e da Amazonia Telecom, as principais fontes de recursos do mensalão.

Feito o balanço, as telefônicas injetaram R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda, agência administrada pelo empresário Marcos Valério, que segundo a PF montou a engenharia financeira por meio da qual o dinheiro foi entregue a parlamentares sem justificativa e de forma ilegal.

Feita a análise inicial, verificou-se que a central de dados do banco não continha informações relevantes que pudessem ajudar a elucidar os responsáveis ou beneficiários do mensalão. No entanto, a quebra de sigilo prestou-se a identificar fortes indícios de prática de crime contra o sistema financeiro nacional e também de evasão de divisas.

O acesso aos dados deu-se por uma manobra jurídica, pois já fora tentado anteriormente e negado pela primeira instância da Justiça Federal de São Paulo, Tribunal Regional Federal da 3ª Região e até pelo Supremo Tribunal Federal, em pedido encaminhado pela CPI dos Correios, na tentativa de elucidar a origem dos recursos ilegalmente pagos a parlamentares para concordar com as propostas do governo Lula.

Desde meados de 2007, o inquérito que investiga Dantas e seus comandados está sob a presidência do delegado da PF Protógenes Queiroz, o mesmo que investigou e prendeu o hoje deputado Paulo Maluf e o contrabandista Law Kim Chong.

Houve uma análise estratégica para conduzir a investigação. Dantas tem muitos informantes no meio de telecomunicações, até por já ter contratado espiões particulares que usam práticas ortodoxas, a exemplo da Kroll, segundo acusa o Ministério Público Federal, e ser acionista da Brasil Telecom e também da Telemar. A opção foi grampear o fluxo de e-mails que circulam pelo servidor central do banco Opportunity.

A troca de correspondência revelou as ligações de Dantas com Naji Nahas, inclusive o acesso a dados privilegiados do mercado financeiro, de acordo com a investigação. Segundo a PF, por conta do nível de dados que o grupo demonstra dominar, configura-se o acesso a informações privilegiadas em primeira mão ("inside information"), o que, pelas leis brasileiras, poderia ser enquadrado como crime contra o sistema financeiro.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Os numeros de SP

Números duvidosos

Vem sendo alardeado aos quatro ventos que o orçamento do governo de José Serra para 2009, aprovado ontem na Assembléia Legislativa, cresceu 20% em relação ao deste ano. Mas o avanço não é tão surpreendente quanto parece. Se for levada em conta a arrecadação real de 2008 - e não a estimada no orçamento - o crescimento não passa de 6%.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Lula desfruta do melhor momento de sua carreira política"



O colunista do UOL Fernando Rodrigues analisa a pesquisa CNT-Sensus e alerta para projeto que pode aumentar o número de vereadores em algumas cidades do Brasil

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O PIB ESPANTOSO E LULA

Li na Folha de Sãso Paulo de anteontem o seguinte texto de Vinicius Torres Freire:

“O Brasil dos seis primeiros anos do governo Lula terá crescido, na média anual, o dobro do registrado durante os anos FHC. O resultado decerto ajuda a explicar os 70% de popularidade do presidente, mas nem de longe esgota a explicação dos motivos do prestígio luliano. Nem permite prognósticos binários, preto ou branco, a respeito da influência do baque do ano que vem no projeto político do governismo.

O muito provável tombo de 2009 terá reflexos econômicos diferentes nas diversas camadas sociais. De resto, a interpretação política que os diversos grupos sociais darão ao resfriamento do clima econômico também deve ser diferente.

Há mais cidadãos pobres um tanto mais protegidos das intempéries econômicas do que havia sob FHC.

Ainda haverá até 2010, mesmo que o governo contenha a expansão de gastos previdenciários, em bolsas sociais e no mínimo, embora os benefícios sociais não se esgotem aí.

Apesar das críticas, coisas como o ProUni e eletrificação são percebidas como um progresso para quem não tinha luz alguma. O estoque acumulado de bens duráveis nas casas mais pobres será uma memória viva de anos de bonança.

Enfim, tais benefícios devem parecer, aos mais pobres, a maioria absoluta e qualificada, um sinal do cumprimento do contrato político e social que Lula lembra todos os dias em seus palanques, goste-se ou não do seu populismo ou de sua política econômica ou outras -não interessa, no caso.

Afora a hipótese de depressão mundial, de catástrofe que pudesse desorganizar a economia brasileira (crise cambial, fiscal, recessão), o governo Lula ainda tem muito tempo e margem de manobra para reforçar seu capital político. Isso mesmo que o espantoso resultado do PIB seja seguido por quedas duras nos próximos seis meses.

Espantoso, sim. Se a economia encolher 1% neste trimestre (ante o anterior), a alta do PIB em 2008 ainda ficará em 5,8%.

Os números do crescimento de ontem não apenas indicam que sabemos muito pouco sobre a economia brasileira, que parece crescer de modo desembestado se há um mínimo de estabilidade. O Brasil praticamente entrava em ritmo coreano de crescimento. Mas, na hipótese de não ter havido o desastre mundial de setembro, tal balada era claramente inviável. A demanda doméstica estava contribuindo com mais de oito pontos percentuais para um PIB que crescia a 6,3% anuais. Metade disso era investimento, decerto, mas o "déficit externo" parecia explosivo, com inflação no teto da meta (o setor externo "tirou" 2,6 pontos percentuais do PIB nos últimos quatro trimestres).

Lula estava entre deixar a economia desembestar em direção a um tumulto de fabricação caseira ou teria de segurar o crescimento, o que o BC estava pronto para fazer. Se não vier catástrofe, Lula poderá tirar proveito da crise, pois, como tem feito. O "ajuste" será em parte imposto pela crise mundial, que de fato não é "nossa", e assim poderá ser faturada politicamente. Por fim, as condições de recuperação são boas. A fatia do investimento no PIB é recorde em décadas, assim como as condições financeiras (fiscal e dívida externa).

A crise será dura em 2009, mas manejável, se o governo não for muito inepto, em especial na área fiscal.”